Roteiro Homilético 8: Mons. José Maria
(http://www.presbiteros.com.br/)
Viver sem
medo?
Encontramos
muitas pessoas com medo! Muitas vezes estamos cheios de medo. A criança tem
medo do escuro e da pessoa que grita. O adolescente tem medo de si: medos
inconscientes, mas dolorosos; medos que se chamam timidez, complexos de
inferioridade, agressividade.
Muitos adultos
vivem roídos de medo, da pior forma de medo – a angústia. Muitas vezes vivemos
tremendo: medo do futuro, medo da morte, ou simplesmente do amanhã. Por medo, a
pessoa se tranca dentro de seu pequeno mundo, cada vez mais se isola da
sociedade. Por medo, levanta muros protetores cada vez mais altos, criam-se
condomínios mais fechados e seguros… Medo da doença… do desemprego… .
Porém, Jesus
no Evangelho (Mt 10, 26-33), com sua Palavra, derrama um bálsamo em nossos
corações: “Não tenhais medo!” É uma espécie de refrão que ressoa nas palavras
de Jesus, repetido (nesse trecho) três vezes. Antes de qualquer raciocínio,
hoje deveríamos assimilar e por assim dizer acolher em nós, saboreando-lhe toda
a doçura, estas palavras de Jesus: Não tenhais medo!
Todo o
Evangelho, e antes ainda o Antigo Testamento, está cheio disso. A Abraão Deus
diz para não ter medo, na hora mesma que o chama para fora de sua terra, para
um país desconhecido. Aos profetas diz: não temas, eu estou contigo. A Maria:
não temas, encontraste graça. Aos apóstolos, enviando-os ao mundo, diz: não
temais diante dos tribunais e diante dos governadores. A todos os discípulos:
Não temais, pequeno rebanho (Lc 12, 32).
Jesus
oferece-nos as motivações, oferece-nos o verdadeiro remédio para nossos medos.
Não temais – diz – aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Não
temais, pois! Vós valeis mais do que os pássaros. No entanto, nenhum cai por
terra sem a vontade do Vosso Pai. “O Vosso Pai” – o que dizer: o que fará por
vós lhe sois filhos? A revelação da PATERNIDADE de Deus e a revelação de uma
vida além da morte asseguram, portanto, o convite de Jesus. Todo o medo é
redimensionado no momento em que Jesus traça e revela um plano da vida humana –
o plano mais verdadeiro e mais pessoal do homem – em que nada o pode prejudicar,
nem quem o mata. Vós podeis nos matar, mas não podeis nos prejudicar,
exclamava, dirigindo-se aos perseguidores, o mártir São Justino, nos primeiros
dias da Igreja.
A raiz maligna
de cada medo humano tem um nome preciso: é a morte, fruto do pecado. Jesus a
venceu, expiando o pecado, todo o pecado do mundo. Venceu a morte passando pela
morte e esvaziando-a de todo o veneno. A morte e a Ressurreição de Cristo são
penhor de nossa vitoria, são fonte de nossa esperança e de nossa coragem: Se
Deus é por nós, quem será contra nós… Quem nos separará do amor de Cristo? A
tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? …
Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que
nos amou (Rm 8, 31-37). Tribulações, angústia, perseguição e fome: a Escritura
tomou conhecimento de nossos medos mais profundos, mas nos ofereceu uma saída,
uma esperança de vitória, graças a Jesus Cristo, que nos amou e se entregou por
nós (Gl 2,29).
Sem medo à
vida e sem medo à morte, alegres no meio das dificuldades, esforçados e
abnegados perante os obstáculos e as doenças, serenos perante um futuro
incerto: o Senhor pede-nos que vivamos assim. E isto será possível se
considerarmos muitas vezes ao dia que somos filhos de Deus, especialmente
quando somos assaltados pela inquietação, pela perturbação e pelas sombras da
vida. Está é a vitória que vence o mundo: a nossa fé (1Jo 5, 4) . E do alicerce
seguro de uma fé inamovível surge uma moral de vitória que não é orgulho nem
ingenuidade, mas a firmeza alegre do cristão que, apesar das suas misérias e
limitações pessoais, sabe que essa vitória foi ganha por Cristo com a sua Morte
na Cruz e com a sua gloriosa Ressurreição. Deus é a minha luz e a minha
salvação, a quem temerei? Nem ninguém, nem nada, Senhor. Tu és a segurança dos
meus dias!
Nas
tribulações o Senhor nos dirá: “Basta-te a minha graça” (2 Cor 12, 9).
Em todos os
momentos peçamos a proteção da Virgem Maria. “Na hora do desprezo da Cruz,
Nossa Senhora está lá, perto do seu Filho, decidida a correr a sua mesma sorte.
– percamos o medo de nos comportarmos como cristãos responsáveis, quando isso
não é cômodo no ambiente em que nos desenvolvemos: Ela nos ajudará” (São
Josémaria Escrivá, Sulco, 977).